Tuesday, October 2, 2007

Guildas e Academias, Casas do Saber

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Frans Francken II. Art Room, 1636
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A Guilda de São Lucas deve o seu nome a São Lucas, padroeiro dos artistas, que terá pintado a Virgem. Foi a guilda mais famosa do seu tempo, existindo várias nos Países Baixos [Antuérpia, Haarlem, Bruges].

A ela pertenciam pintores, escultores e outros artistas plásticos, bem como artistas de outras artes, e ainda comerciantes e amantes de arte que funcionavam enquanto patronos. Outras guildas incluíam bordadeiras e outras artes manuais. A primeira Guilda de São Lucas foi criada, em 1382, em Antuérpia, seguindo-se-lhe Bruges, 1453. As escolas holandesa e inglesa guiavam-se pelo sistema da guilda de regra e educação, as italiana e francesa criaram academias de arte, concepção mais moderna que a da guilda de estrutura medieval, baseadas no conceito de um artista escolarizado e imaginativo, não sujeito a um só mestre, mas a um saber de grupo e experiências comuns. A Guilda era sujeita a regras várias. Pressupunha uma fase inicial de aprendizagem; na seguinte, o artista podia trabalhar para um membro e assinar os seus trabalhos; posteriormente, poderia vender os seus próprios trabalhos e, finalmente, criar o seu estúdio. Os Judeus não podiam delas fazer parte e as mulheres eram admitidas como raras excepções.

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Cornelis Cort. An Ideal Roman Academy, 1578

(gravura segundo desenho de Jan van der Straet) .
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A associação do trabalho de agulha à pintura terá facilitado a entrada das mulheres, enquanto pintoras, para as guildas de então. Sendo que as mulheres não frequentavam academias, nem era suposto da arte fazerem ofício, tal significava quanto a arte do trabalho de agulha era então elevada. A Guilda de São Lucas de Antuérpia, incluía, em 1586, 8% de mulheres, todas viúvas. A de Bruges, entre 12 a 15% de mulheres, entre 1454 e 1480.

Em Inglaterra, a pintura e o bordado eram vistos como ofícios e não pertenciam a algumas guildas, já os escritores pioneiros da história da arte europeia davam prioridade a três artes, três géneros ditos elevados: pintura, escultura e arquitectura, praticados por profissionais. Impedidas de terem o seu próprio estúdio, de receberem aulas e de as darem, bem como de pertencerem a guildas e academias, apenas nos conventos as mulheres podiam trabalhar em grupo. Criavam narrativas religiosas para altares de Igrejas, logo, a serem vistas pelo público, ao qual visavam passar uma mensagem moral e de guia espiritual.

A imagem acima, de Cornelis Cort, é uma gravura feita para ilustrar o programa de estudos da Academia de Roma em 1578. Segundo o autor do desenho, Jan van dre Straet, na academia ideal não existem mulheres, os jovens aprendizes desenham tendo estatuetas como modelos e aprendem anatomia através de cadáveres e esqueletos. Nela estão representados o pintor, o escultor e o gravador.
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Johann Zoffany. The Academicians of the Royal Academy, 1771-2 .
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Em 1563 é fundada, por Giorgio Vasari, a Academia de Desenho de Florença, primeira em Itália, e muitos artistas acorrem para Roma aquando da fundação da Academia de San Luca, por Federico Zuccaro, passando por Bolonha (1582) e Perugia (1573). Ainda em Itália, registam-se a Academia dos Progressistas (1580), em Bolonha, obra dos pintores da família Carracci, e a Academia de Milão, fundada pelo cardeal Federico Borromeo, em 1620. Esta alteração introduzida pelas academias, e, porque no século XVII, a tensão entre os artistas de outros países a praticarem nas cortes e os locais foi crescendo, faz com que as guildas comecem a desaparecer e com elas o seu monopólio.

A mudança vai chegar aos Países Baixos, onde cresce a participação em sociedades literárias e humanistas. Em 1663, a Guilda de São Lucas de Antuérpia, da qual fazia parte Pieter Bruegel, associa-se ao grupo literário Violieren, acabando por se reunirem, fundando a Academia de Antuérpia. Enquanto nas guildas os artistas eram considerados artesãos, as academias aumentam-lhes o prestígio, atribuindo-lhes o estatuto de intelectuais e, ao mesmo tempo, fornecem formação científica e humanística ao artista, ensino de desenho e teoria. Deste modo, ensinam história e filosofia, bem como geometria, anatomia e perspectiva, e possibilitam a assistência a aulas com modelos vivos. São estas igualmente encarregues de divulgar as obras dos seus membros e organizar exposições dos trabalhos destes. Após o sucesso, em Itália, destas instituições, em 1648 Paris assiste à fundação da Real Academia de Pintura e Escultura, com o apoio de Luís XIV, sendo os temas mitológicos e históricos, na senda dos valores da Antiguidade Clássica, os mais veiculados. Porque os artistas italianos eram muito apreciados em França, Luís XIV funda, em 1666, uma Academia Francesa em Roma, de modo a estreitar experiências entre artistas franceses e italianos, e facultar aos franceses uma convivência mais próxima com as obras antigas. . .

Johann Zoffany. The Tribuna of the Uffizi, 1772-7 .
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À luz desta experiência, como muitos artistas britânicos estudavam em academias de Paris e Roma, os ingleses decidem, por sua vez, segundo estes modelos, formar a sua própria academia, Real Academia de Arte, em 1768, que se torna inovadora porquanto recorre a modelos de ambos os sexos. Não há referências aos modelos femininos nas já existentes francesa e italiana, onde o estudo do nu feminino era proibido, destas fazendo parte apenas no séc. XIX, embora sabendo-se que tal era comum em estúdios privados. Entre os 36 membros fundadores da academia britânica estavam duas mulheres, Angélica Kauffman e Mary Moser. Veja-se, acima, de Johann Zoffany. The Academicians of the Royal Academy. Uma vez que as mulheres estavam proibidas de assistirem a aulas, ou o seu acesso a elas era limitado, estas não aparecem representadas entre os membros, estando apenas retratadas na parede à direita. Contudo, ambas apresentavam os seus trabalhos nas exposições anuais, o que diz do seu valor académico. A imagem seguinte, pintura de Johann Zoffany. The Tribuna of the Uffizi, apresenta o gosto e valores académicos do séc. XVIII, esculturas gregas e romanas, pintura renascentista, incluindo Rafael, Ticiano e Rubens. Embora os membros representados sejam um grupo masculino, estes admiram obras de arte onde o tema é a mulher (Madonas, Vénus ou Bacantes), indicando que a representação do corpo feminino faz parte da arte e gosto da época. Vénus, em particular, enquanto código simbólico, que na ausência do nu feminino natural, funciona como ideal de beleza feminina e diz da idealização da mulher nua reconstruída pela natureza. .
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Adrienne Granpierre-Deverzy. Intérieur de l'atelier d'Abel de Pujol, 1822 . .
Com o caminhar do séc. XIX, as academias vão proliferando ao longo de toda a Europa, algumas depois dividindo-se em temáticas específicas, como a filosofia, ciência e literatura, e abertas ao novo pensamento. As mulheres tornam-se membros activos.
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4 comments:

isabel mendes ferreira said...

oh luz!


oh mulher iluminada!



oh prazer!


OH....


_______________

good morning.


beijo.


tb. por aqui....

a divagar.devagar.
com imenso imenso deleite.

Anonymous said...

Post perfeito!!

Beijos mil!

Elisabete Cunha

isabel mendes ferreira said...

"e tava linda...vaVadiando"...
__________________

beijo.

teresamaremar said...

:))))

regressar assim para tão bom tratamento, é um prazer :)


beijo Y

beijo Elisabete