Saturday, May 5, 2007

Perspectiva, a ilusão da percepção

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A Perspectiva é a grande inovação renascentista, que viria a determinar toda a pintura dos séculos vindouros. Esta é a ilusão que a nossa percepção visual fabrica de forma a poder entender profundidade, volume e distância.
Para representar a perspectiva, partimos de um ponto (ponto de fuga), e uma linha imaginária (linha do horizonte) onde este se localiza, sendo que todas as linhas de projecção da pintura convergem para esse ponto.
Através de regras geométricas de projecção, podemos representar um objecto tridimensional, e assim os elementos mais distantes do olho são os que se encontram mais próximos do ângulo de visão, sendo os objectos mais pequenos interpretados como estando mais distanciados.

Observemos esta pintura bizantina, que se caracteriza pela perspectiva ausente. As figuras representadas têm a mesma dimensão, sendo colocadas "por andares", numa perspectiva hierárquica, pretendendo estes sugerir a distância.
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Detenhamo-nos, agora, na pintura abaixo de Cimabue (1240-1302).
A composição organiza-se à volta do trono, Nossa Senhora na parte superior, abaixo os Profetas, os anjos nas laterais. Observe-se o rigor simétrico.
Embora ainda na tradição da pintura bizantina, note-se que as figuras aparecem em patamares, contudo já menos estáticas. Cimabue criou uma linguagem plástica que teve um papel decisivo na revolução levada a cabo por Giotto.

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Compare-se com a imagem seguinte, de Giotto (1266?-1337), e veja-se quanto Giotto quebrou definitivamente com a tradição anterior. Foi ele o introdutor da trimensionalidade, com ela trazendo a profundidade. A diferença nota-se ainda nos corpos, modelados de forma mais orgânica e plástica, as personagens, num mesmo tempo, matéria e espírito. Atente-se, ainda, na construcção do trono.
Observe-se, por fim, esta última pintura de Giotto. O estilo é mais forte e claro, os espaços mais largos e os movimentos mais soltos. A caracterização das personagens é individual, estas vêem, escutam, admiram-se, surgem retratadas segundo as suas reacções mentais.
Uma outra curiosidade, o Céu. Giotto pintou o Céu azul, ao invés do tradicional dourado, perdendo este o caracter sagrado e tornando-se mais do domínio da física. Azul do Céu que Leonardo da Vinci tentou explicar, observando que o fumo da madeira a queimar, atravessado pela luz solar, e visto contra fundo escuro, era de coloração azulada.
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2 comments:

Anonymous said...

Olá teresamaremar

Na minha "perspectiva", este texto é muito bonito, explicativo e simples.
Para quem, como eu nos meus tempos de estudante, punha o bico do lápis à frente do nariz e fechava um olho, e tudo o que via era...o bico do lápis...as suas palavras foram muito úteis.

E...belos quadros!

teresamaremar said...

O segundo parágrafo... tenho de sorrir :))

Obrigada pelas palavras.